Precisamos retomar o anonimato. Falo especificamente da cultura midiática de exposição pessoal a que se submetem as pessoas hoje em dia, a fim de dar um toque de celebridade à própria rotina de cada dia.
Estamos tão saturados de informação que acabamos por perder a capacidade de reflexão sobre o que se vê, ou se vive hoje, porque não há tempo hábil de processar tanto conteúdo. Justamente por este excesso, sem querer, passamos a aceitar que certas escolhas podem ser adotadas por todos sem maiores consequências...
Apresento abaixo uma reflexão de Dom Alberto Taveira - Arcebispo de Belém do Pará - sobre o matrimônio cristão. Ele sublinha a importância de se vivê-lo na simplicidade de sua rotina, e na importância de assumi-lo com seriedade, fidelidade, e compromisso com a missão que ele encerra.
"Com certa frequência aparecem estatísticas sobre a fidelidade e a
infidelidade entre os casais. Parece uma propaganda das aventuras infelizmente
existentes, que podem suscitar justamente uma banalização de uma das graças do
matrimônio cristão.
Desejo homenagear os casais que não submetem sua própria
intimidade a perguntas que os expõem na praça pública. Sintam-se reconhecidos
todos os casais fiéis, e são muito mais do que se divulga! Saibam que a Igreja
faz festa com eles por conservarem, no verdadeiro tabernáculo que é sua vida
conjugal, o tesouro da fidelidade, prometido com plena liberdade quando seu amor
se tornou Sacramento. Não fica esquecido pelo Senhor o dom de suas vidas!
Por falar em exposição, sim, os casais cristãos têm algo a mostrar! Trata-se
dos filhos, testemunhas da fecundidade do amor verdadeiro. Já se disse que o
amor conjugal não é olhar um para outro a vida inteira, mas olharem os dois
numa mesma direção! Olhar para o alto, participar da graça criadora de Deus,
gerar filhos para a Igreja e para o mundo! É dignidade a ser sonhada e
construída pelo homem e a mulher que se unem no Sacramento do Matrimônio. É
graça a ser pedida pelos que se preparam ao Casamento.
Tudo isso encontra seu sentido na fé, fundamento de realidades humanas
assumidas nesta terra, como pessoas que veem o invisível. Há muita gente pronta
para descrever os problemas das famílias. A nós, na Igreja, cabe a tarefa de
proclamar um verdadeiro evangelho da família, reconhecida como boa nova para o
nosso tempo.
Daí nasce o convite aos jovens vocacionados ao matrimônio, para que
empreendam um caminho de discernimento e preparação correspondentes à grandeza
do sacramento que desejam abraçar. Entrem na escola do amor verdadeiro, treinem
a capacidade de escuta e acolhimento, exercitem a saída de si mesmos para dar
espaço à outra pessoa. Peçam a Deus a graça de descobrirem a quem deverão
entregar totalmente suas vidas. Sejam anunciadores de novas famílias, renovadas
no Espírito Santo.
Aos casais cristãos, chegue o convite da Igreja a edificarem cada dia seus
lares sobre o fundamento da fé, de modo a transmitirem valores consistentes aos
filhos e os testemunharem à sociedade. Deus lhes confiou muito! A Evangelização
de seus filhos começou quando estes foram gerados no amor, deixando neles uma
marca indelével. Continuou quando vocês lhes ensinaram os rudimentos da fé cristã. Benditas
foram as orações que lhes foram ensinadas! Deem graças ao Senhor porque vocês
os apresentaram à Igreja para os Sacramentos, quando os encaminharam à
Catequese. Aliás, vocês foram os primeiros catequistas! Deus lhes pague e
confirme sua vocação na transmissão e educação da Fé Cristã na Família, como
quer celebrar a Semana Nacional da Família. Deus seja louvado pelos valores
cristãos que existem em nossas famílias, santuários da fé e da vida!
Com as famílias e pelas famílias, rezamos confiantes: “Deus
eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um
coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Amém!"
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