segunda-feira, 23 de março de 2015

V Domingo da Quaresma: morrer para viver





Naquele tempo, alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.Pai, glorifica o teu nome». (Jo 12,20-33)

Neste Quinto Domingo da Quaresma, a curiosidade dos gregos em conhecer Jesus marca o tom do Evangelho. Os discípulos vão até Jesus para que Ele os oriente como devem responder aos inquisitores, e aí vem-nos a essência daquilo que representa o discipulado. 

O texto abaixo é uma leitura do Pe. Carlo Battistoni   sobre esta passagem do Evangelho:

"Jesus não dá uma solução “simplória”, “barata”, fácil e idealista. Jesus fala de vida e de como viver a vida. De algum modo Ele indica o “preço” que é preciso pagar para conhecer realmente quem é Jesus e “ver” de fato, realmente o que está Nele. Ao contrário de qualquer ideologia, até ideologia religiosa, a fé em Cristo é “visível”, isto é, irradia-se por si própria e contagia as pessoas que vêem o cristão autêntico. Logo o apelo que Jesus faz aos discípulos pode-se resumir em poucas palavras: “Não digam nada sobre mim, me sigam e isso falará por si próprio”. Assim como Jesus é a glória do Pai, também na vida dos discípulos o Senhor será glorificado, isto é, manifestado em toda a sua beleza aos homens: «Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado». Glorificado pelo Pai, que reconhece o Seu amor fiel até o fim e glorificado pelos cristãos que, com as suas atitudes de fidelidade (seguir), dirão ao mundo qual é o verdadeiro rosto de Jesus, dirão “quem” Ele é. 

Seguir a Jesus é “servir a Jesus”; é com esse amor que Ele deseja ser amado, porque o amor real é fiel e irreversível; a cruz mostrará a irreversibilidade do amor o qual não volta atrás, não abandona, não desiste porque é regido por um laço que é mais que humano, é divino, já que o Amor é a essência de Deus. Mas como conhecer a Jesus se não formos capazes de seguir o caminho que Ele escolheu?

O Evangelista nos mostra um lado profundamente humano de Jesus; ele não é um exaltado estóico, que desdenha o medo e o sufoca com um alucinado fervor religioso (como acontece com aqueles que se iludem de agradar a Deus provocando a morte com o próprio suicídio...). Jesus é um homem que ama a vida. Ele mesmo é a Vida. Por isso confessa a sua apreensão diante da morte, pois nenhum homem é feito para a morte; ela é tolerada, sim, mas não consegue ser integrada com os impulsos vitais que nos movem a cada dia. Nem o homem é feito para a morte, nem a morte é para o homem. 
 
Por outro lado Jesus se compara com o grão de trigo. Isso obviamente não é para enaltecer a “morte”, mas para indicar que, muitas vezes, é quando morremos a várias coisas da nossa vida, dos nossos projetos; quando morremos ao nosso “eu” que deseja sempre triunfo e sucesso... É então que, de dentro de nós, se libera toda a potencialidade de vida, assim como acontece com a semente. Quando aprendemos a perder coisas, convicções, certezas, vêem à tona recursos que sequer imaginaríamos de ter na nossa vida. Quando deixamos “morrer” aquilo que nos deixaria “sozinhos” («resta só...» diz Jesus),  nos deixaria “apenas o que somos agora”... Pois então, será naquele mesmo momento que toda a vida que Deus colocou em nós encontrará a sua explosão.

"Onde eu estou, estareis também vós..."; o caminho da profunda comunhão com Jesus não passa pelo triunfo e sucesso, passa pela perda, perda em nome do amor, perda que se transforma em riqueza de vida para muitos, para «todos» dirá Jesus. 
 
Será ainda necessário nos perguntar: “onde está Jesus?”. Ainda que fosse necessário, a resposta que pode convencer “gregos” que buscam a verdade definitiva, é apenas uma: onde se ama sem condições, de modo visível e objetivo. O discípulo poderá “servir” a Jesus oferecendo a si mesmo como o “lugar” onde poderá tornar-se visível a qualidade do amor do Filho do homem".

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