domingo, 9 de agosto de 2015

Pai, ofício de amor

Jesus nos contou de forma maravilhosa que Deus é Pai. A paternidade e a maternidade estão presentes em nossa natureza humana, e toda pessoa recebe esta missão, ainda que de formas diferentes. Ninguém nasceu para a esterilidade, pois todos nascemos para gerar, e não poderia ser de outro modo, pois somos imagens e semelhança de Deus, que é Pai e Mãe, ao mesmo tempo. Deus nos pede respeitosamente nossas entranhas paternas e maternas, como pediu à Virgem Maria, para continuar a gerar a vida. E é necessário que os homens assumam de forma madura sua forma de amar, para ser pais. 
 
No entanto a paternidade está em crise, o que leva à crise de lideranças maduras e corajosas no mundo. E quando faltam pais, idolatra-se a imagem de uma eterna juventude. Não basta ao homem gerar filhos, sem ser realmente pai. A ausência dos pais se expressa na ausência física, na ausência afetiva, com medo de expressar carinho e afeto e na ausência normativa, já que os pais devem claros em seus critérios sem receio de estabelecer limites. Sejam homens capazes de amar com vigor e ternura, para que se estabeleça o adequado equilíbrio de relações entre as pessoas, a partir da magnífica polaridade entre homem e mulher, criada pelo próprio Deus.

Fomos todos chamados a amar. E este amor começa em Deus, que é sua fonte, sem o qual todo amor humano desfalece. Queremos convidar todos os homens a acolherem com coração aberto o fato de serem amados por Deus e por ele chamados a amar. Amar é dar a vida pelos outros, com clareza e firmeza. Não há maior manifestação possível de virilidade do que sair de si mesmos para fazer o bem, buscando corajosamente o bem dos outros, começando pela prole que os homens têm a graça de gerar, participando da obra criadora de Deus. Sua missão é feita de um olhar acolhedor para a paternidade do próprio Deus, e lhes cabe enfrentar as múltiplas dificuldades da vida com ousadia e firmeza.

O amor há de ser vivido na família, e nos voltamos hoje de modo especial para os homens que receberam a vocação da paternidade. Cabe-lhes, por fidelidade à vocação recebida, a iniciativa do amor. Dar o primeiro passo para edificar a família e buscar o trabalho que lhes possibilite prover às necessidades do lar. Para tanto, devem descobrir cada dia mais o sentido da gratuidade. Está na natureza humana a superação das relações de troca com preço. É magnífico saber que pais de verdade não cobram pagamento dos que lhes são confiados. Isso faz com que, por mais simples que sejam suas vidas, sejam pessoas totalmente entregues à missão recebida. Vivem um ofício de amor, com o qual acolhem a todos e preferem cada pessoa, conhecendo a esposa e cada um dos filhos. Permanecem no amor (Cf. Jo 15, 9-11), acompanhando cada um dos membros da família, fiéis e perseverantes. Acompanhar é permanecer no amor, prolongar no tempo e no espaço a acolhida e a animação. É a atitude de quem assume a posição de pai, com atenção e serviço.
  
A Família, Igreja Doméstica, tem como vocação ser o rosto de Jesus, de braços abertos e coração palpitante, com boas vindas escrita nos umbrais da casa. E o "dono da casa" é chamado a ser sinal do Pai e do Filho, conduzido pela força do Espírito Santo. A Igreja Doméstica será de verdade uma casa de acolhimento na medida em que seus moradores acreditarem na força do Espírito que a ninguém nega sua presença e que a cada um acolhe no mais íntimo do coração, como “doce hóspede da alma”.

Justamente porque o mundo em que vivemos é frio e calculista e são muitíssimos os que se sentem sem apoio, queremos voltar "para casa", reencontrando no lar, fundado no Sacramento do Matrimônio, a fonte de realização sonhada por todos. Neste dia dos pais, olhamos com gratidão para aqueles que já vivem com intensidade sua magnífica vocação e rezamos pelos que, tendo-a recebido de graça, ainda não descobriram toda a sua grandeza. Nosso presente é dizer que são presente de Deus para nossas famílias!

Trechos do texto de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano do Belé do Pará para o Dia dos Pais

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