A semana santa é para os cristãos a Semana maior. E
diz-se assim não porque seja cronologicamente maior do que as outras,
como se tivesse mais dias, mas porque nela os cristãos celebram com
intensidade o mistério mais profundo e mais importante a partir do qual
toda a realidade adquire sentido. Mais ainda: cada dia da semana santa, e
muito especialmente o tríduo pascal, tem uma tal densidade que
concentra em si todo o sentido da história.
Na Quinta-Feira Santa, na celebração da Ceia do
Senhor, Jesus interpreta o sentido da sua vida e da sua morte, como
Corpo entregue e sangue derramado, donde surgem dois grandes sacramentos
que serão um o memorial e o outro o serviço deste memorial, a
Eucaristia e a Ordem. À noite, na vigília de oração, a Igreja contempla a
agonia de Jesus no jardim das oliveiras e a prisão, com o sinal
tremendo do beijo de Judas. O que se celebra na quinta-feira santa é o
que há de mais profundo na existência humana…
Na Sexta-Feira Santa, é a condenação de Jesus pelo
tribunal judaico, o Sinédrio, e pelos romanos, na pessoa do Procurador
Romano, Pôncio Pilatos. A multidão prefere Barrabás e Pilatos lava as
mãos, entregando o inocente. A Paixão de Jesus é para nós cristãos o
centro e o ponto final para onde tende todo o sentido da história da
humanidade, a hora que Deus pensou desde toda a eternidade, na qual
manifestou a sua glória, que é o seu amor, que quer que o pecador se
converta e viva; a glória de Deus que é que o homem viva, sendo que a
vida do homem está na contemplação desta hora, de que tanto fala o
Evangelho de S. João: Deus amou de tal modo o homem… levou até ao fim o
seu amor por eles… Chegou a hora! Glorifica, Pai, o teu Nome!... São
expressões que encontramos em S. João…
No Sábado Santo, o dia do repouso de Deus, no qual o
Senhor crucificado repousa no sepulcro. Que mistério este envolvido no
silêncio de Deus. O Sábado Santo é da semana santa e do tríduo pascal o
dia talvez menos meditado. Nesse dia a Igreja está em silêncio junto ao
túmulo de Jesus meditando, contemplando o mistério do que aconteceu à
alma de Jesus, ao Verbo encarnado durante o tempo, que está já para além
do tempo, entre a morte e a ressurreição.
E o Domingo de Páscoa, o Dia da Ressurreição, da
vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, do perdão sobre o
pecado… O dia da Igreja, da liberdade dos filhos de Deus, o sinal
sagrado colocado no meio da banalidade do tempo, para nos despertar para
o tempo de Deus para nós e para os outros…
Semana Maior, porque nela se concentra tudo o que é importante na vida, no tempo e na eternidade, onde tudo começa e tudo termina, em que o primeiro dia (o domingo) é também o último (oitavo dia), sinal distintivo dos cristãos. S. Paulo sintetiza o sentido de tudo isto quando escreve numa das suas cartas, profundamente emocionado: Ele amou-me e entregou-se por mim. Tudo o que se celebra na Semana Maior aconteceu por mim. Por um lado, percebemos a grandeza do pecado, porque Ele deu a vida na cruz por causa do pecado, para a remissão dos pecados; mas por outro manifesta a divina paixão de Deus pela humanidade, pelo homem, por cada ser humano em particular, porque cada um pode e deve fazer suas as palavras de S. Paulo, e assim o valor de cada homem mede-se a partir do sangue de Cristo, porque foi por cada um que Ele derramou o seu sangue. Lembra-te, ó homem da tua dignidade e procura viver de acordo com ela, correspondendo ao amor de Deus por ti, pois que o que celebra nesta Semana Santa, nesta Semana Maior, aconteceu e continua a acontecer, na Igreja e nos sacramentos, por ti, mesmo por aqueles que não acreditam.
Quem entende estas coisas? Quem acredita, porque quem acredita vê melhor, porque vê com o olhar do coração.
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