sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Tríduo Sagrado da Páscoa

O Tríduo Sagrado da Páscoa





Jesus morto, sepultado e ressuscitado
Um olhar de conjunto
Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos!... Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém” (Rm 11, 33.36).

A expressão acima resume a aliança que vai além da infidelidade do povo de Israel. Do evento do Mistério Pascal emana a vida divina e perene da Igreja.

Na tarde da quinta feira Santa tem início o Tríduo Pascal, com a celebração da Ceia do Senhor, cujo término ocorre com as vésperas do dia Páscoa. A luz pascal constitui a interface que ilumina a história da Salvação. É um farol que orienta tanto a compreensão e sentido do Antigo Testamento (AT) quanto ao mistério da vida de Jesus (NT), desde a encarnação, paixão, morte e ressurreição, até os fins dos tempos.

A Quinta Feira Santa
A Missa do Crisma, presidida pela manhã pelo bispo em sua catedral, com a participação do clero e do povo, encerra a quaresma e prepara os Óleos santos finalizados à celebração da iniciação cristã - especialmente durante a grande vigília pascal - e a da unção dos enfermos.

A Ceia do Senhor, ao anoitecer, abre o Tríduo celebrando na forma sacramental da Eucaristia o dom do Corpo e Sangue do Senhor. A humildade com que Jesus, o Mestre, lava os pés dos discípulos, instaura novo modelo nas relações recíprocas entre os discípulos e entre toda e qualquer pessoa em toda situação e tempo.

A Sexta Feira Santa: celebração da Paixão do Senhor
No centro da celebração está o evento e o mistério da cruz, proclamado nas Escrituras (Is 52,13-53,12; Jo 18,1-19,42), honrado com a adoração e o beijo da cruz por parte da a assembléia, reconhecido como intercessão permanente junto do Pai (Oração universal), interiorizado na comunhão. A cruz é tragédia em nível humano, porém a fé a proclama como revelação suprema do amor de Jesus e início da vida nova que dele brota.

Neste dia predomina a contemplação silenciosa e adorante do evento da crucifixão. A cruz é “o eixo do mundo”, diziam os padres da Igreja, pois nela se manifesta o extremo compromisso de Deus em favor do mundo. Porém este silêncio se torna o grito mais alto que testemunha seu amor sem limite.

O grito sofrido e confiante de Jesus, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Sal 21, 2), assume em si mesmo o grito dos crucificados de todos os tempos, e abre para eles a esperança, pois “por isso Deus o exaltou e lhe concedeu um título (Kyrios- Senhor) que é superior a todo título”, e o fez raiz e modelo de vida nova entre os irmãos (Fil 2, 6-9).

Sábado Santo: dia do silêncio de Deus e dos homens
O Sábado Santo é o dia do grande silêncio. Só a Liturgia das Horas acompanha as etapas do dia.

“Que está acontecendo hoje?”, se pergunta o autor de uma antiga homilia sobre o sábado santo (séc. IV). “Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos.” (LH, IV, Sábado santo).

O Sábado Santo testemunha que Deus continua descendo até as entranhas mais obscuras e ambíguas da alma humana, e nas experiências mais marginalizadas, para recuperá-las e trazê-las à vida. Nada e ninguém é abandonado a si mesmo. Aprender a conviver com a “fraqueza” de Deus, com os silêncios de Deus, com os tempos e os diferentes ritmos de Deus, dos seus projetos, com a pedagogia com a qual ele nos dirige e acompanha com amor fiel embora às vezes incompreensível. Eis a lição do Sábado Santo. O Sábado Santo não é somente o segundo dia do tríduo: é uma dimensão constitutiva da identidade cristã e de todo caminho espiritual cristão.

Para perceber e acolher a voz silenciosa que sobe da escuridão, é preciso o silêncio interior que abre à escuta e à uma visão mais aguda.

Baseado em texto de Dom Emanuele Bargellini
Prior do Mosteiro da Transfiguração, Mogi das Cruzes – SP
Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo – Santo Anselmo – Roma



Nenhum comentário:

Postar um comentário